E mesmo com tantos contrastes, a cidade sempre será o lar daqueles que dobram-se de amor por ela.
por Fernando Aires

Uma das características mais marcantes de São Paulo, apesar de toda a sua agitação, problemas e estresse (que só quem vive há bastante tempo por aqui entende e não se deixa perturbar) é justamente a harmonia que ela consegue estabelecer e que de certa forma nos prende aqui, como nenhum outro lugar.
Parece irônico, mas não é. A cidade é harmônica em tudo e é disto que muitos paulistanos sentem falta, quando estão longe dela por muito tempo.
Harmônica, por exemplo, na arquitetura, mesclando clássicos de Ramos de Azevedo, como o Mercadão da Cantareira e o Teatro Municipal, com o modernismo de Lina Bo Bardi, com o Masp. Harmônica na música, com a erudição de peças clássicas de Strauss, Chopin, Mozart, Beethoven, Heitor Villa-Lobos, em contraponto com a música das ruas, que vai desde o funk, passando pelo samba, pagode, axé, forró, sertanejo até as músicas estrangeiras.
Em São Paulo, erguida simples Vila no século XVI pelos jesuítas Manoel da Nóbrega, José de Anchieta e também pelo pouco conhecido Manuel de Paiva, hoje, bolivianos, peruanos, cubanos, japoneses, portugueses, italianos, espanhóis, americanos, ingleses, libaneses, árabes e outros tantos povos apresentam suas melodias e também sua culinária, seus hábitos e costumes que colorem a cidade dia e noite em cada bairro, deixando suas marcas até no sotaque.
É graças ao esforço deles, que muito desta cidade se desenvolveu com os anos. O esforço do estrangeiro, juntamente com a paixão do brasileiro, fez de São Paulo a própria casa de muitos que se encontram a milhões de quilômetros e oceanos longe de suas terras.
É a cidade do barulho, dos negócios da Avenida Paulista, da Bela Cintra, da Pamplona, do Luxo e da riqueza da Oscar Freire, da Avenida Estados Unidos, em harmonia com a simplicidade, o aconchego e a beleza da Mooca, da Penha, do Tatuapé, que chegam a ser comparados com as cidades do interior.
É a esperança de progresso para as áreas mais periféricas e bairros dormitórios, de gente que acorda às 3h da madrugada para chegar na região central às 7h da manhã, enfrentando duas, até três horas de trânsito, ida e volta para casa. Quanta coragem, em? E sem essa coragem, São Paulo não anda.
É a harmonia perfeita de sons, que hora nos ensurdecem de tão irritantes, com o silêncio ensurdecedor, que às vezes, também não nos agrada – porque não combina com ela. Mais do que o contraste, o Paulistano encontra aqui o equilíbrio que talvez nenhum outro lugar lhe proporcione.
É a cidade da violência e das drogas da Cracolândia, que nos revela diariamente uma dura realidade, que temos que enfrentar e lutar para que termine algum dia. É a cidade do meretrício da Augusta, do Ibirapuera noturno que se contrapõe ainda com a mesma boemia de outros tempos, regada à poesia, samba e cerveja. É a cidade das gargalhadas, das conversas altas de bares, como o famoso Brahma, na icônica esquina da Ipiranga com a São João; e inúmeros outros que abrem dia após dia, em todas as partes, com todo tipo de conforto e comodidade só para receber quem chega cansado e quer se divertir.
É por essas e outras, em razão desta harmonia que oferece em cada canto, que a capital se tornou um pedaço do mundo todo, conquistando a todos com todos os seus encantos, há 471 anos.
E ano após ano, conquista cada vez mais brasileiros e estrangeiros.
Conforme dados do IBGE de 2022, São Paulo acolhe em seus braços 11.451.999 milhões de pessoas, sendo a quarta maior cidade do mundo e a mais populosa da América Latina. No ranking das maiores economias, a do Estado de São Paulo é a 21ª do mundo (US$ 603,4 bilhões), sendo que a capital ocupa o 10º lugar no planeta.
Não por acaso, seu lema no brasão da bandeira é ‘‘Non Ducor Duco”, que significa; ”Não sou conduzido, conduzo”. A harmonia perfeita entre o histórico e o moderno, que serve de inspiração a trabalhadores, poetas e artistas ”com a dura poesia concreta de suas esquinas”, de paixão a jovens e estudantes que sonham e batalham por uma vida melhor.
O cenário perfeito daqueles que já viveram muitas histórias e esperam novas aventuras. São Paulo é e sempre será o lar daqueles que dobram-se de amor por ela.