Não é de hoje que a falta de comunicação entre governos e sociedade prejudica as gestões e compromete trabalhos que poderiam ter continuidade. A comunicação, quando negligenciada nas Subprefeituras, impede que a população participe mais ativamente da política local. Saiba mais

por Fernando Aires

Como é o trabalho de uma assessoria de imprensa? Um assessor não faz as matérias para as mídias (jornais, revistas, internet, televisão ou rádio), mas ele deixa um ‘‘release’’ – texto jornalístico com os principais dados e fatos do que se precisa divulgar, para que o jornal tenha um “aperitivo’’ do que publicar e possa preparar a pauta para abordar o assunto de forma mais completa.

Um trabalho que exige preparo, formação jornalística, vontade de aprender e acima de tudo, de mostrar muito bem o cliente ou a entidade a qual representa. É preciso paixão pelo trabalho que exerce, para poder mostrar com todo entusiasmo o que a sociedade precisa saber e deixar que os veículos façam a sua parte. 

No entanto, muitas vezes, o cargo de assessor em uma subprefeitura, por indicações, acaba pertencendo a profissionais que embora imbuídos de boa vontade, deixam brechas que impedem a população de conhecer e entender melhor o que seus gestores estão preparando.

O jornalista e assessor Rafael Pereira guarda boas lembranças do tempo em que atuou como assessor: “Há muitos anos, desenvolvi um trabalho junto a um vereador. Foi um trabalho gratificante, aprendi muito, embora trabalhasse de domingo à domingo. Não era fácil, tinha que acompanhar o vereador em tudo que fosse lugar, tirar fotos, preparar textos, encaminhar para imprensa e até para as Subs, contudo, nem todos os colegas pensam assim. Não se pode ter preguiça de escrever, tem colegas que fazem dois parágrafos e ‘jogavam’ a responsabilidade para os jornalistas, depois ligavam nas redações pedindo o texto. Aí não pode”, afirma.

Ele continua: “Trabalhei um tempo na Assessoria da Vila Prudente e foi um trabalho muito legal, a gente escrevia matérias o tempo todo sobre a região, como ações de zeladoria e trabalhos sociais.É assim: tem que mostrar pra imprensa tudo que está sendo feito, para que eles possam cobrir e mostrar para os seus leitores. E que esses possam trazer mais reclamações e mais problemas, porque só assim a gente estimula a participação local. E só assim, a Subprefeitura faz um trabalho de ponta”.

O assessor conclui: “Por outro lado, conheci um assessor uma vez, acho que da Sub Penha, que era uma ‘lástima’. Quando escrevia, preparava dois parágrafos muito mal redigidos e que por sua vez em nada refletiam o trabalho da sub ou dos vereadores na região. Resultado: a população desacredita no poder público, porque não acompanha o que está sendo feito. E nem todos os políticos são ‘braço-curto’, tem muito vereador e subprefeito que arregaça as mangas e vai pra luta, irmão, mas ninguém vê ou sabe, porque a assessoria da sub, por exemplo, é fraca. A gente sabe que as Subprefeituras são administrações que contam com suporte da Câmara, sendo os vereadores muito participativos em seus respectivos bairros e zonas eleitorais, e uma assessoria mal feita, compromete todo um trabalho de gestão que depois não tem continuidade. Quem sofre com isso é a população”.

População desconhece o que a Sub faz

Em teoria, as Subprefeituras deveriam ter muito mais autonomia do que possuem hoje. Seria importante, por exemplo, terem a liberdade administrativa e financeira de resolver os problemas locais, sem a necessidade de consultar a permissão das Secretarias primeiro. 

No entanto, a demora em resolver as demandas locais e, muitas vezes, a falta de informações sobre as melhorias já alcançadas, tornam as administrações regionais ainda mais distantes da população, muito mais do que são e jamais deveriam ser. 

Recentemente, a subprefeita da Penha, Kátia Falcão, por exemplo, participou da zeladoria da Praça Nossa Senhora da Guia, no Jardim Maringá. Postou em sua rede social o trabalho da subprefeitura. E onde estava o assessor de imprensa? Nesta mesma subprefeitura, uma importantíssima reunião para debater a flexibilidade das leis de tombamento e patrimônio histórico da Penha ocorreu em março, para menos de 20 pessoas. A subprefeita estava no local, mas, porque não houve mais divulgação por parte do órgão ao bairro, ninguém soube explicar. 

No Instagram da Subprefeitura Aricanduva, V. Formosa e Carrão, uma dezena de postagens de ações de zeladoria são publicados, mas sem qualquer outra informação a respeito das ações da administração nos bairros. Faltam informações, contatos com a imprensa, convites para reuniões e palestras, para que a população tenha acesso e participe ativamente da política local. 

Em vez disso: “Eu mesma não sei o que acontece aqui no Tatuapé, aliás, as gazetas do bairro são uma ‘pobreza’. Da Penha, então, nem se fala, tem matéria só quando a assessoria do metrô atualiza o jornalista do estágio das obras. A gente não tem informação e conteúdo do bairro, para o bairro, porque os assessores não encaminham e muito jornalista cruza os braços, esperando o ‘peixe pronto’ sem ir pescar. Eu mesma, sempre gostei de política e quero ver o Tatuapé voltar a ser grande como era, mas se eu chegar na Sub, dificilmente vou conseguir qualquer informação, porque além do assessor não estar lá, ainda vão me direcionar para alguma Secretaria. Isso não pode ocorrer, está na hora das Subprefeituras terem autonomia e uma comunicação de ponta com a comunidade e as mídias regionais”, afirma Maria Stella, aposentada, que trabalhou na antiga regional da Mooca nos anos 90.

Será que é tão difícil em um universo amplo como o das subprefeituras, estabelecer pontes entre a administração e a população com conteúdos de qualidade e informações importantes? Não seria este trabalho, um facilitador para que os subprefeitos pudessem exercer suas funções de forma um pouco mais plena com oportunidades para galgar degraus na política?

Enquanto a comunicação institucional das Subprefeituras não se aprimorar, as administrações regionais permanecerão opacas, com assessores que mais se parecem figurantes de filme, daqueles que entram em cena, só pra fazer volume e nada mais.