A uma semana do segundo turno, uma das maiores cidades do mundo não parece ter um candidato à sua altura. Por melhores intenções que Nunes e Boulos tenham, suas propostas não parecem atender as demandas de uma cidade que vive dia e noite cercada de problemas, como a estrutura elétrica que é precária, por exemplo. Reflita
por Fernando Aires

São Paulo se depara às vésperas de um segundo turno com dois candidatos que, embora aparentem enorme vontade de fazer algo construtivo, não trazem planos de governo que, de fato, atendam às necessidades do povo.
Por exemplo, enquanto essa matéria é redigida, boa parte da cidade se encontra com fornecimento de água interrompido, por mais de 12 horas. Essa interrupção ocorre diariamente, entre 22h e 3h da madrugada, sendo, obviamente, um racionamento de água.
Desta vez, o tempo foi bastante excedido e não é a primeira vez que isso ocorre. Contudo, o Governo do Estado nega que haja racionamento.
Como pode a 4ª maior cidade do mundo ficar sem água, todos os dias, por mais de 5 horas? E 12 horas, é de se convir que seja um período bem longo. Dá pra negar que seja um racionamento? E por que essa atitude se no passado, muito foi investido no sistema hídrico do Estado pelo então governador Geraldo Alckmin – hoje, vice-presidente da República?

Setor elétrico é outro problema
Fiação elétrica precária é outra questão que o governo da cidade precisa olhar, visto que com o aumento da verticalização, inúmeros postes estão sobrecarregados.
Desta forma, diversos estouros ocorrem em virtude do aumento de pessoas usando a energia ao mesmo tempo. E tome escuridão, em várias partes da cidade, como Santo Amaro, Tatuapé, Mooca, Guaianases e outros.
Recentemente, a capital sofreu o terceiro apagão em menos de 1 ano. Mais de 2 milhões de paulistanos ficaram sem energia e não bastasse a negligência da Enel, o governo parece fingir que a capital tenha a melhor estrutura elétrica do país.
Outras áreas carentes
Faltam creches, hospitais, segurança… O último é um clichê em campanha, mas nunca ninguém resolve.
Trabalhadores de todas as partes são abordados a caminho do serviço, em assaltos que ocorrem antes mesmo que cheguem ao metrô ou ponto de ônibus. Isso quando não ocorre algo pior, como tentativa de estupro ou sequestro.
Uma cidade que é a 21ª maior economia do mundo, com um PIB de 12 bilhões de reais, superior a países como Polônia, Suécia, Bélgica, Argentina, Áustria, Noruega, Irlanda, Singapura e Dinamarca, merece uma estrutura de ponta e à sua altura.
Não adianta depois justificar a inércia pela suposta “falta de dinheiro”, porque isso não é verdade.
Propostas de Boulos e Nunes
Ricardo Nunes (MDB), que juntamente com o saudoso ex-prefeito Bruno Covas, entregou apenas 48% das promessas de campanha, se encontra à frente das pesquisas de intenção de voto.
Ricardo entregou muito mais propostas administrativas, baseadas em privatizações e outras, do que as que visavam um serviço público de qualidade. Ou seja, propostas que ninguém vê ou sentiu diferença, que não demandam tempo nem esforço ou ainda, as que estavam há anos para serem entregues, como o Parque Paraisópolis, após 13 anos de espera.
No seu programa de governo, Ricardo Nunes prevê o uso da Inteligência artificial para combater a corrupção, aumento do efetivo da GCM e criação de 200 salas de atendimento específicas na educação para portadores de autismo.
Dá pra acreditar que saia do papel em 4 anos?
Guilherme Boulos (PT) vai além e propõe criar 16 unidades de pronto atendimento na saúde – sem definir localidade, nos modelos dos Poupatempos atuais, para agendamento e realização de exames de todos os tipos.
Na educação, defende a implementação de psicólogos para acompanharem os alunos mais de perto em escolas “antirracistas” e propõe uma força tarefa para combater o roubo de celulares na capital.
É de se perguntar: quais seriam as escolas antirracistas e por que só o roubo de celular é preocupante na capital, onde a Cracolândia cresce assustadoramente, por exemplo?
Propostas dos outros principais candidatos no 1º turno
Tábata Amaral (PSB), que cedeu apoio à Guilherme Boulos no segundo turno, possuía uma preocupação semelhante, e desejava implementar em ação conjunta com o Governo do Estado, experiência semelhante ao que se fez no Piauí, para repressão a furtos e roubos de celulares.
Novamente, por que só os celulares preocupam?
Na saúde, a candidata promete ampliar para 75% a cobertura do SUS para toda família paulistana, de forma que haverá médicos e especialistas para atender qualquer paciente.
Lindo de se ler e de sonhar, mas, na prática, dá para tirar do papel em 4 anos?
Pablo Marçal (PRTB), que embora não tenha declarado publicamente, condicionou seu apoio à Nunes no 2º turno, por sua vez, previa a ampliação do funcionamento dos serviços da Prefeitura para fins de semana, feriados e além do horário comercial.
Quanto isso vai custar aos cofres públicos, ele não soube dizer, assim como o teleférico faraônico.
A triplicação do efetivo da Guarda Civil Metropolitana (GCM), que também promete, é algo que todos falam e não fazem, porque é preciso ainda mais dinheiro.
Por fim, promete implementar um sistema de remuneração por resultado para professores e gestores escolares. A meritocracia é importante, mas, como adequá-la em regiões tão carentes e com escolas onde os alunos mal comem direito? Seria justo com o professor?
José Luiz Datena (PSDB), diante da carreira de jornalista à frente das câmeras, ficou mais marcado em sua campanha pela “cadeirada” em Pablo Marçal do que pelas suas ideias. O jornalista optou por não apoiar a nenhum dos candidatos no segundo turno.
Seu projeto de governo previa o aumento do número de armas letais e não letais em posse da GCM para combater a criminalidade, extensão do horário de funcionamento das Unidades Básicas de Saúde (UBS) até as 21h e ampliação da oferta de ensino técnico e profissionalizante, além da valorização do esporte através do futebol de várzea.
A pergunta que fica é: com aproximadamente, 40 anos de profissão, o candidato não deveria saber mais de São Paulo e suas necessidades? As ideias não são ruins, mas, qualquer pessoa que ande por São Paulo, há de observar que a capital precisa estar preparada para que estas ideias atinjam resultados.
Uma “proposta” do Conexão Paulistana – sem qualquer pretensão
Por que nossos candidatos não buscam na regionalização uma solução para os problemas da capital? Sabemos que são problemas distintos, mas quem melhor que as subprefeituras e as Associações de Bairro para conhecê-los e trabalhá-los?
Só este ano, a cidade já arrecadou R$ 1,6 bilhão em seis meses. Com tanto dinheiro, não seria interessante tratar suas necessidades de uma forma mais “micro planejada”, onde cada administração regional tivesse realmente o “poder de prefeitura” para resolvê-los?
Onde cada secretaria servisse de suporte e caminho direto à prefeitura, quando necessário e ainda, onde o prefeito pudesse receber mensalmente de cada subprefeito, os relatórios e avanços conquistados, onde a população tivesse mais participação naquilo que realmente merece e precisa ao seu redor?
É tão difícil assim, colocar isso em prática?
Antes de tentar desenhar os problemas e soluções, é necessário conhecê-los de perto. Nenhum dos candidatos aí presentes, sabe e conhece o que São Paulo e suas regiões realmente precisam.
Parece, sem trocadilhos, não haver conexão entre eles e a capital, mas, que o melhor vença e faça o trabalho que se espera.